28 de junho de 2012

Manhã Maior- Parto domiciliar

25 de junho de 2012

O nascimento, do ponto de vista do sujeito

Gramática nunca foi o meu forte. Mas o conceito de objeto e sujeito foi fácil de entender. O sujeito é quem faz, quem age; o objeto é passivo, quem recebe a ação. Vamos levar esse aprendizado para a sala de parto. Quem nasce? O bebê, claro! E, pelo menos num parto natural, quem executa a ação do nascimento – quem se desliza, gira, emerge – é o bebê. E as exclamações no momento emocionante em que sai o corpinho deixam isso claro: “ela/ele nasceu!”
Infelizmente, nessa sociedade imediatista e comodificada, isso foi se perdendo de vista. Sobretudo com a assistência ao parto cada vez mais padronizada e tecnocêntrica, o bebê é tratado como um objeto, o produto de um evento regido pela equipe médica. É o médico quem sabe (após dezenas de ultras, cardiotocos e exames) quando seu produto, quer dizer, o bebê, está pronto: “Mãezinha, o bebê já tá com 37 semanas; ele tá prontinho para nascer! Vamos marcar a cesárea”. Ou, para quem tem pacientes um pouco mais informadas: “Olha, sua placenta já está Grau 3, sinal de que está madura. Vamos retirar esse bebê antes que alguma coisa aconteça?” Em ambos os casos, fica claro que o bebê não passa de um objeto – um objeto muito precioso e delicado, sem dúvida – mas um mero objeto de cena nessa produção chamada “Nascimento”. Mas, como nos mostra a gramática, esse entendimento do nascimento ignora um fato inegável: o bebê é o sujeito e não o objeto. E é por isso que eu quis fazer esse exercício de tentar descrever o nascimento do ponto de vista dele.
Num parto fisiológico, acompanhado por uma equipe que interfere o mínimo possível, a mulher entra em trabalho de parto após receber um sinal enviado provavelmente pelo pulmão e pelas glândulas renais do bebê. Ou seja, o primeiro sinal captado pelo cérebro da mãe, desencadeando a liberação dos hormônios do parto, vem do bebê. É ele quem diz que está pronto para nascer (podendo estar com 38, 40, 42 semanas ou até mais). Essa primeira parte do trabalho de parto – chamada de pródromos ou fase latente – é lenta, e o bebê não participa ativamente. Se for muito sensível, sente como um abraço as contrações ainda fracas e, por hora, espaçadas do útero, acolchoadas pela água que o cerca. Com sorte, ele está de cabeça virada para baixo, com as costas viradas para o umbigo da mãe, na posição mais favorável para iniciar sua descida sinuosa pelo canal de parto. Como um atleta prestes a dar um mergulho, ele aperta o queixo em direção ao peito. Na fase ativa, em que o útero de sua mãe trabalha com toda a força para afinar e abrir o colo (saída do útero), é capaz de o bebê sentir os abraços com mais força e, quem sabe, começar a contribuir para que a abertura aumente. Com sua cabeça, ele faz pressão no colo, ajudando-o a se abrir, e isso acontece com mais eficácia ainda após o rompimento (natural) da bolsa. Com o colo totalmente aberto, pode ser que ele faça uma pausa antes de prosseguir. Como se tivesse aberto o portal, mas, na hora, bate um medo de passar para o outro lado: o que será que encontrará lá? Um mundo frio, hostil e estranho ou um lugar quente e seguro, não muito diferente de seu antigo lar, só que muito mais interessante?
Passando para a segunda fase do trabalho de parto – a expulsão – o bebê desce ainda mais, e faz movimentos para facilitar a passagem pelo canal de parto, que tem como sustentação os ossos da bacia (em formato oval) e os músculos e tecidos macios do períneo (assoalho pélvico). Se sua mãe estiver sendo bem atendida, numa posição confortável, com liberdade de movimento e sem receber ordens de fazer força, a ação do útero, a gravidade e o saber instintivo mãe-e-bebê contribuirão para que ele vá descendo e girando – lentamente, com possíveis sobes e desces – esticando com cuidado o períneo elástico da mãe. A pressão do canal de parto, quente e seguro, mas talvez um tanto desconfortável para o pequenino, ajuda a apertar seus pulmões, para que o líquido seja expelido, o que facilitará a sua primeira respiração. No mais, nessa decida pelos tecidos da mãe, o bebê ingere bactérias benéficas, que logo colonizarão seu intestino, contribuindo (e muito) para uma flora intestinal saudável e eficiente. É um percurso difícil e desafiador, mas ele consegue e, enfim, emerge. Mãos quentes o recepcionam. Ele está acordado e alerta, apesar do medo. Na próxima contração, sai o seu corpo, girando, e ele é colocado no ventre da mãe. É um susto, uma emoção e tanto, mas ele reconhece o cheiro, o calor, a voz. Recebe ainda o sangue oxigenado da placenta, mas já se acostuma, aos poucos, como o ar e o novo meio que o cerca. Ele conseguiu: embarcou numa viagem, trabalhou, persistiu. Pode ser que tenha passado, literalmente, por alguns apertos  (hehe) , mas foi vitorioso. E, no futuro, ele poderá dizer, com orgulho, que ele, de fato, nasceu.
Minutos após o parto, o bebê cansado é acolhido pelos seus pais

21 de junho de 2012

Entre a dor e o prazer (ou os dois juntos) - por Jeane Bordignon


Texto da minha amiga jornalista Jeane. Uma delícia de ler e entender sobre dois lados de uma mesma moeda!!

“Tudo é Duplo; tudo tem polos; o igual e o desigual são a mesma coisa; os opostos são idênticos em natureza, mas diferentes em grau; os extremos se tocam; todas as verdades são meias-verdades; todos os paradoxos podem ser reconciliados.” (O Caibalion)

O texto acima vem do Antigo Egito e pertence a preceitos do conhecimento mais profundo. Um conhecimento que, num mundo cada vez mais acelerado e cheio de ocupações e distrações, parece cada vez mais distante das pessoas “comuns”. E assim, não compreendemos nosso próprio corpo e nossa natureza.

Some-se a isso a forte cultura cristã-católica que impregna nossa sociedade há mais de dois milênios. Uma cultura que ensina que somos todos pecadores, onde a dor é punição ao pecado do prazer. “Parirás entre dores”, diz Deus à Eva, depois que esta cai em tentação e come o fruto proibido. Essa ideia foi tão infundida e propagada que hoje poucos lembram que dor e prazer são extremos de uma mesma sensação, opostos sim, mas que se tocam.

Frio e calor, amor e ódio, luz e escuridão, fraqueza e força... vivemos sempre entre extremos que se alternam, e buscando o ponto de equilíbrio. E esse ponto não é a combinação perfeita dos opostos, mas a compreensão do fluxo, do eterno ir e vir (ao princípio da Polaridade, citado no começo deste texto, se segue o do Ritmo – tudo tem fluxo e refluxo; tudo tem suas marés; tudo sobe e desce; tudo se manifesta por oscilações compensadas; o ritmo é a compensação).

Talvez em nenhum momento esse Ritmo da natureza possa ser melhor compreendido do que no trabalho de parto: as contrações não são contínuas, vão e vêm como ondas. Se a dor por um momento chega a parecer insuportável, em seguida ela se vai, e volta a sensação única e sublime de estar trazendo uma vida ao mundo. Mas nos ensinaram que aquele serzinho que está nascendo é fruto do pecado, e o nascimento tem que doer muito para sermos perdoadas... é justo e correto que nascer seja algo sofrido?

Sofrimento. Talvez esteja aqui um outro grande equívoco. Associamos toda dor a um sofrimento, a uma coisa extremamente negativa, ruim. Às vezes, sim, a dor é um alarme do corpo de que algo não está bem. Em outras, é apenas um sinal de que algo está se modificando, de que estamos tentando expandir nossos limites. A dor pode ser apenas uma reação do corpo a algo a que ele não está acostumado. A primeira relação sexual costuma doer, porque o corpo nunca viveu aquilo. Ou quando se começa a praticar exercícios físicos regularmente, o corpo dói até se acostumar a ser levado a outros limites.

Mesmo com dor, o sexo e a ginástica nos trazem sensações de bem-estar. Liberam endorfina, o hormônio do prazer. Já em situações de estresse, o corpo produz adrenalina, um hormônio que nos deixa mais alertas para avaliar o perigo e partir para a fuga ou a luta. A descarga de adrenalina deixa o coração acelerado, os músculos mais enrijecidos... uma tensão que é necessária em momentos em que precisamos usar nosso instinto de sobrevivência, mas que nos sobrecarrega quando é constante. E que atrapalha o ritmo quando outros hormônios deveriam estar em ação.

Endorfina e adrenalina estão presentes no trabalho de parto, mas é um momento em que a função maior pertence à ocitocina, tão importante que é chamada de hormônio do amor. Além de estimular as contrações e a lactação, a ocitocina é responsável pelo vínculo intenso se forma entre mãe e bebê naquele momento. É nos primeiros instantes após o nascimento que o corpo da mãe está repleto do hormônio do amor, e é também ele que a faz amar mais do que tudo aquele bebezinho que ela acaba de tomar nos braços pela primeira vez.

Isso não quer dizer que o vínculo não possa ser feito sem essa descarga de ocitocina. Mas acaba sendo mais lento e difícil. No caso de uma cesariana, além da falta do hormônio, a mãe está com parte do corpo anestesiado, os braços presos a soro e aparelhos, não consegue receber seu filho como se estivesse livre. (Claro que há casos em que a cirurgia se faz necessária. Mas ela devia ser apenas um procedimento de emergência, não de comodidade). Muitas mulheres se submetem a esse procedimento apenas pelo medo de sentir muita dor, de não suportar a dor do parto. Nem vamos entrar na questão do parto natural ser muito melhor para o bebê, que nasce mais forte e ativo, e para a mãe, que se recupera mais rápido, estando logo pronta a cuidar de seu filho. Para um grande número de gestantes, o medo da dor parece ser maior do que as vantagens do parto natural.

O que não falta ao redor de grávidas são outras mulheres que tiveram experiências negativas de parto e, na maioria das vezes com boa intenção, transferem o seu trauma. Isso sem que nem a que vai passar quanto aquela que já passou questionem o que faz com que um nascimento, que deveria ser um momento especial, seja visto de forma tão sofrida. Talvez tenha sido o ambiente pouco acolhedor do hospital, o desconforto de ser obrigada a ficar numa posição desfavorável ao parto (deitada de barriga para cima), ou o uso da ocitocina sintética. A versão artificial do hormônio do amor é ministrada para acelerar as contrações, fazendo com que o trabalho de parto seja mais rápido. Mas querer apressar o ritmo da natureza tem um preço. As dores são muito mais intensas, e o organismo confuso com aquele hormônio extra não consegue fazer a compensação que torna a dor do parto suportável.

Quando está totalmente entregue ao processo de trazer seu filho ao mundo, diz-se que a partir de determinado ponto do TP a mulher entra na Partolândia. Não é mais a mente racional quem comanda, é o instinto de mamífera, de fêmea que sabe deixar que seu corpo faça o que for preciso. O mesmo corpo que por nove meses abrigou e nutriu, agora recebe os sinais do bebê de que ele está preparado para a vida fora do útero. E então encaminha seu fruto, que no trajeto apertado que precisa percorrer já vai aprender a superar obstáculos, e chegar aqui do outro lado mais forte. Durante esse processo, uma cascata de hormônios se derrama sobre o corpo da mulher. É algo tão intenso que a dor pode ficar pequena diante de todas as outras sensações que o TP provoca.

Mas, claro, isso só é possível se a parturiente estiver tranquila e segura o suficiente para deixar seu instinto comandar este momento. Se puder respeitar os sinais de seu corpo ao invés de ser obrigada a ficar na mesma posição desconfortável por horas. Se tiver um ambiente calmo ao seu redor, com luz suave e pouco barulho. Se tiver ao seu lado apenas pessoas que lhe deem o apoio necessário, sem querer interferir na natureza apenas para que o bebê nasça mais rápido, permitindo que tudo aconteça a seu tempo.

Dessa forma, o organismo da mulher segue o ritmo que a leva entre os polos da dor e do prazer, que podem até coexistir. A experiência do parto pode ser extremamente prazerosa, mesmo com dor. E por que não, se é a experiência mais intensa da vida de uma mulher? Não é pecado, nem algo feio e condenável, sentir prazer. É apenas se permitir ser feliz, sem medo de uma dor que nada tem de sofrimento. Ela é só o reflexo do esforço necessário para gerar, criar, dar vida, colocar no mundo um novo ser. 


Jeane Bordignon é Jornalista e Ativista da Humanização do Parto e Nascimento.

17 de junho de 2012

Encontro do GAPP Luz da Vida dia 16/06/2012

Encontro maravilhoso com a presença de duas doulandas, Letícia e Thays, que tem a DPP bem parecidas! Mas nada de pânico meninas, rs. Além de 2 casais queridos que vieram a convite da doulanda Thays. E claro estavam presentes minhas apoiadoras, a Jornalista Jeane Bordignon e a instrutora de yoga Ana Mello. Ou seja, bombou o encontro!!! Amei receber todos vocês, espero revê-los outra vez!







12 de junho de 2012

Marcha do Parto em Casa - Porto Alegre




A marcha vai ocorrer em todo Brasil. Porto Alegre também irá participar! Dia 17/06 , a partir das 13:30, no Parque Farroupilha. 
Participe também! 

TEMOS O DIREITO DE ESCOLHER ONDE QUEREMOS PARIR!!
O NOSSO LAR É UMA OPÇÃO SEGURA SIM!!

11 de junho de 2012

Compartilhando post: A Retaliação veio na velocidade da luz – Caça as Bruxas


Essa reportagem foi publicada hoje em resposta a matéria de ontem no Fantástico sobre parto domiciliar. A retaliação veio mais rápido que nunca e acompanhada de uma legião a caça as bruxas.
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro fará uma denúncia ao Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo contra o médico Jorge Kuhn.
O CREMERJ é contra a prática do parto domiciliar e alega que o local para partos mais seguro é o hospital. Esse posicionamento é acompanhado pelo Conselho Federal de Medicina – CFM, por todos os conselhos regionais de medicina do País (isso mesmo, do P-A-Í-S) e por outras envolvidas na obstetrícia.
Agora fica a pergunta no ar, o que o Rio de Janeiro tem a ver com isso???
Por que uma retaliação dessa por conta de entrevista? Ele nem faz partos domiciliares…. De onde veio a humanidade antes de existir hospitais? Por que não divulgam os partos hospitalares de sucesso desse maravilhoso médico? Por que não divulgam quantas mães e bebês ele salvou? Por que não divulgam quantos alunos ele formou??? Por que?????? POR QUE?
Link da matéria:
Retirado daqui

4 de junho de 2012

Como pensa o pediatra que criou o attachment parenting


arquivo pessoal


CRESCER entrevistou, por telefone, William Sears, mais conhecido por Dr. Bill Sears, o pediatra norte-americano que compilou os conceitos do chamadoattachment parenting, um estilo de criar os filhos que ganhou espaço na mídia do mundo todo após a capa comemorativa do dia das mães da revista TIME

Cíntia Marcucci

Carregar o bebê próximo ao seu corpo, em um sling, por exemplo; começar o contato com seu filho logo após o partoamamentação prolongadadeixar o filho dormir na sua cama. Se você está grávida ou tem filhos menores de 10 anos, já deve ter ouvido ou lido pelo menos uma discussão sobre essas práticas. Muita gente defende, outras muitas criticam com unhas e dentes. E não só por aqui. 

Recentemente uma capa da revista TIME literalmente “causou” em sites, redes sociais e na mídia em geral do mundo todo. A imagem, que trazia uma mãe amamentando uma criança de 3 anos, era só um chamariz para contar a história de Dr. Bill Sears, o pediatra norte-americano que escreveu, vinte anos atrás, o livro The Baby Book (O Livro do Bebê, em tradução literal, inédito no Brasil). Best-seller nos Estados Unidos, o livro traz sete regras que devem ser seguidas para criar filhos felizes, saudáveis, e com “bom caráter”, o chamado attachment parenting, algo que é conhecido no Brasil comocriação com apego. Além das quatro atitudes citadas no início desta reportagem, estão na lista acreditar no choro do seu filho (e confortá-lo sempre), tomar cuidado com métodos de treinamento para bebês (como o que diz para amamentar a cada 2 horas ou deixar o bebê chorando por X minutos) e balancear a maternidade / paternidade com as outras áreas da vida (casamento e cuidar de si mesma). 

Dr. Bill Sears tem 72 anos, oito filhos, alguns netos e conversou com a CRESCER por telefone para explicar como ele chegou aos conceitos do attachment parenting, justificar por que recomenda que os pais os sigam e comentar sobre toda a polêmica que sua teoria gera entre quem tem, está para ter e mesmo quem não tem filhos. 


CRESCER - Como você chegou ao seu conceito de attachment parenting
Dr. Bill Sears -
 Quando eu comecei a atuar como médico, 40 anos atrás. Eu sabia muito sobre bebês doentes, mas nada sobre bebês saudáveis e normais. Então eu comecei a observar essas crianças saudáveis e descobri muitos hábitos das mães, muitas atitudes inteligentes. Foquei nas crianças que eram bem comportadas, que eram muito saudáveis, e passei a investigar o que o pai e a mãe dessas crianças faziam, o seu estilo de criar os filhos. Foi assim que eu descobri os sete conceitos (7 Baby B’s, em inglês) - é o que esse pais faziam na maioria das vezes. Também li e ouvi relatos de pessoas que tinham viajado pela América do Sul e observaram que eram carregados junto ao corpo das mães. E contavam como os bebês adoravam, como as mães também pareciam felizes. E eu pensei: tenho que popularizar isso aqui na América do Norte! 


C – Todos os seus filhos nasceram após o senhor desenvolver esse conceito? 
Dr. B.S.
 - Sim. Foi durante, na verdade. A gente foi descobrindo também o que era melhor para os nossos filhos. A cada filho minha mulher ia amamentando por mais e mais tempo, por exemplo, pois isso funcionava muito bem para ela. 


C – E seus filhos seguiram os mesmos preceitos que o senhor na crianção dos filhos deles, seus netos? Ou houve um daqueles conflitos de gerações em que os filhos resolvem fazer tudo ao inverso do que seus pais fizeram? 
Dr. B.S.
 - (risos) Eles seguiram com esse estilo sim, acho que viram que funcionou bem, deu certo. Mas eu sempre faço brincadeiras com eles: “Oras, vocês estão bem hoje, não é?”. Sabe, é um estilo muito natural de ser pai e mãe, é quando uma mãe segue seus maiores instintos, os mais básicos. Não é nada extremo e nem é novo. O que eu fiz foi apenas pegar tudo o que as culturas ao redor do mundo sabem por séculos e reunir. Pois eu acho que nós precisamos voltar ao mais simples e natural, que sabemos por experiência milenar que funciona. Acho que era preciso trazer isso de volta. 


C – Por que o senhor acha que é bom voltar para isso? Que bem, afinal, isso faz para as crianças? 
Dr. B.S. -
 Eu estudo isso há mais de 40 anos, então eu já pude observar e estudar pessoas que hoje são adultos e foram criados seguindo esses preceitos. Eu os chamo de “crianças que se importam” (kids who care, em inglês). Eles têm o que chamamos de empatia, eles são pessoas gentis, muito sensíveis, são bons indivíduos para a sociedade. Não se transformam, por exemplo, em crianças que praticam bullying. Nós como sociedade, em todos os países, precisamos mais de pessoas assim, mais de sensibilidade. É muito raro que uma criança criada assim se torne um criminoso. 

C – E por que o senhor acha que as pessoas resolveram criticar tanto tudo isso agora, o que causa tanta polêmica, em especial depois da matéria de capa da Time
Dr. B.S. -
 Eu acho surreal, pois as pessoas estão se afastando do que é básico na maternidade. Para muitas mulheres, isso não tem nada de estranho, nem de extremo, é muito natural. Para outras, essa ideia de amamentar até os 3 anos é absolutamente bizarra. O ponto que eu quero mostrar a todos é que isso não é surreal em muitas e muitas outras culturas. A Organização Mundial de Saúde, uma organização muito mais do que respeitada, recomenda que se amamente por 2 anos ou mais. Então, se isso é recomendável ao mundo todo... 


C - Sim, mas imagino que pessoas argumentem que isso simplesmente não se encaixa mais com o estilo de vida atual de muitas mulheres, em especial as que trabalham fora. É muito possível que muitas delas não consigam ter essas atitudes. O que o senhor diz a respeito disso? 
Dr. B.S. -
 Eu acredito que dá para conciliar com o trabalho, sim. E mais que isso, digo que o attachment parenting é ainda mais importante para as mulheres que trabalham. Na verdade, as mulheres sempre trabalharam. Isso não é novo. Minha mulher trabalhava enquanto cuidava dos nossos filhos e eu ainda estava na faculdade. As mães são as melhores multitarefas do mundo, elas podem fazer muitas coisas ao mesmo tempo. E as mulheres podem continuar amamentando depois de voltar ao trabalho, por conta de todas as bombas de amamentação que existem hoje, muito mais modernas. Aqui nos EUA nós temos leis agora que permitem que as mulheres tirem 15 minutos várias vezes por dia para extrair seu leite em um lugar específico e depois levar para seu bebê. Então existem meios, sim, para a mãe que fica longe de seu filho. O leite materno é ouro líquido, e isso é um meio maravilhoso delas se conectarem com seu filho. Acho que o attachment parenting é ainda mais importante na sociedade atual. (Nota da editora: aqui no Brasil existem projetos de lei para que existam salas de amamentação nas empresas e também projetos para padronizar esses espaços). 

C – Aqui no Brasil temos 4 meses de licença-maternidade, é bem menos nos Estados Unidos, não é? 
Dr. B.S. -
 Sim, e dar um bom período de licença-maternidade é característica de um governo sábio. Pois é um investimento nas pessoas do futuro daquele país. É o futuro da sociedade que entra em jogo. 

C – Gostaria que o senhor falasse um pouco da culpa materna. As mulheres se sentem culpadas por não estarem perto de seus filhos, não fazer isso ou aquilo por eles. O senhor não acha que dizer que elas devem amamentar por tempo prolongado aumenta ainda mais esse sentimento? 
Dr. B.S. -
 Eu acho que attachment parenting é o contrário. Ele dá ferramentas para que ela fique mais próxima, se conecte com o seu filho, não o oposto. Ou seja, mesmo se você precisar estar longe de casa, você tem um jeito de, na volta, estar mais perto do seu filho. São coisas para ajudar, não para piorar a sensação dela. 


C – E quanto aos homens? O que os pais podem fazer sobre o attachment parenting, já que amamentação é uma das coisas que só as mães podem fazer? 
Dr. B.S.
 - É muito importante para o pai ter atitudes nesse sentido, para que a mãe não se sinta esgotada. O pai pode vestir o bebê, usar o sling, ele pode confortar um bebê que chora. É lindo ver um homem segurando seu bebê pele com pele. Vê-lo cantar para seu filho, aconchegá-lo. E os bebês amam isso. É um jeito muito bacana dos pais participarem. 


C – Algo mudou desde que o senhor escreveu o livro The Baby Book
Dr. B.S. -
 Acho só que fica mais claro que podemos comprovar que isso funciona. Temos como mostrar que as crianças criadas assim cresceram bem, saudáveis e hoje são adultos com boa saúde e caráter. Mas eu digo aos pais o seguinte: escolham e pratiquem o estilo de paternidade que for mais natural para vocês.